
Estás preso nos meus sonhos, cativo das minhas ilusões. Não és real se não no momento esquecido em que me perco todas as noites. És o anjo que veio para me salvar, não da morte, mas da solidão.
Vieste parar ao meu imaginário e perdeste as tuas asas na queda. Por isso continuas aqui.
Quando o sol beija o mar, no seu abraço fugaz com a lua, quando esta surge redonda no seu esplendor celestial, a noite cai nos meus olhos e a escuridão viola o meu corpo. A alma vagueia perdida no vazio do sonho e de repente escuto os teus passos. Aproximas-te. Porque nunca ouvi a tua voz? Acaso os anjos não falam?
Paras diante de mim, nu, despojado do pecado original que carregamos em vida. Vens puro abraçar a minha alma. Só tu me podes tocar, eu sou apenas corpo etéreo de luz. Nesse abraço esqueço tudo e viajo para além do sonho.
O tempo para, só a nossa respiração corta o silêncio. Tocas a minha face e eu a tua. Sinto a eternidade percorrer os meus dedos e o infinito fica mais perto. Estamos vivos, isto é real.
Nossos olhares encontram-se e o seu corpo receoso toca no meu, despertando a paixão que trazia adormecida em mim. Famintos, selvagens, caímos por terra. Num abraço eterno, pele contra pele, voei com o meu anjo ao limiar da loucura.
Olhei para o meu anjo e vi-o chorar. Bebi das suas lágrimas o líquido da verdade e ouvi-o sussurrar: "Deixa-me ser livre".
Soltei-o. Voa anjo, voa por mim. Cumpriste a tua parte, libertaste-me da solidão. Voa!
Viro-me para o lado e encontro o teu corpo quente perto do meu. Resmungas algo inconsciente e abraças-te a mim.
Ali ficamos os dois, unidos pelo amor e pela liberdade que ele nos oferece. As tuas asas já não me incomodam. Aprendi a conviver com elas.
1 comentário:
Mergulho de asas abertas e espero que a madrugada me relembre onde estou... Perco-me nas tuas palavras... No suave murmurejar dos sonhos em que me envolvem... Não sou anjo mas posso voar, não sou diabo mas sinto ferver o meu sangue...
Quem te ensinou a ler-me?...
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